Quem sou eu? Um questionamento que todos deveríamos fazer.
- raquelmsarmento
- 21 de mar.
- 6 min de leitura
Normalmente, na nossa cultura, quando nos apresentamos usamos nossa profissão. Sou Psicóloga, Engenheiro, Médica, Vendedora, Cozinheiro…
Fiquei refletindo quantas oportunidades melhores temos para nos descrever.
Claro que quando acertamos a mão na decisão de carreira, isso diz muito sobre quem somos, mas somos mais do que esse lado.
Gosto de dizer por exemplo que sou mãe. Sou mãe não apenas do Emanuel, mas da Lavínia, da Ipa, das amigas… Eu tenho um grande instinto maternal. De cuidado mesmo. De orientação. De acolhimento. E isso se engendra na minha carreira. Eu sou psicóloga. Trabalhei muitos anos em RH, orientando, acolhendo, encontrando soluções para as pessoas dentro das empresas. Na clínica,sempre foquei no acolhimento, nos questionamentos que incentivam as pessoas a pensar por si mesmas - coisa que no meu maternar é muito presente… Gosto da ideia de criar meus filhos para o mundo. Incentivo isso em outras mães e pais. E acredito que aprendi isso com a minha mãe. Tá aí, meu outro papel importante é ser filha. Fui uma filha que deu orgulho e trabalho, em diferentes momentos. Eu sempre fui muito questionadora, crítica, sempre acreditei que existem diferentes formas de pensar, de agir, de ser, e que mais de uma pode ser “certa” ou “errada”. Trago isso desde a infância, como filha, como aluna…
Essas características - questionadora, crítica, flexível, adaptável, atenta, curiosa, dedicada, leal, exigente, teimosa, intensa, assertiva, generosa, explosiva, me definem tanto, e tão melhor do que dizer “sou Psicóloga”! Apesar das pessoas em geral não estarem habituadas a ouvir e falar sobre si mesmas dessa forma, o que causa um estranhamento ao se apresentar dessa maneira. Imagine você conhecendo alguém e a pessoa pergunta “E você, o que faz?” e eu responder “Eu estou sempre procurando compreender o que está acontecendo comigo e com as pessoas que me cercam, e me dedico pra caramba para atingir as metas que estabeleço para mim mesma”. Eu acho que essa resposta seria ótima, mas certamente não foi isso que a pessoa achou que iria escutar. Então muitas vezes respondo “sou psicóloga”, dependendo do contexto, no máximo um “sou mãe”.
Talvez você que me lê já tenha percebido que gosto muito de falar sobre as minhas experiências. Alguns podem dizer que isso é muito leonino da minha parte, mas a real é que eu aprendi que no geral as pessoas passam por situações desafiadoras muito semelhantes e na maioria das vezes acreditam que aquilo só está acontecendo com elas, e se sentem solitárias, estranhas, “loucas”. Eu gosto de acabar com essa sensação, dizendo que eu também já passei por isso ou conheço muitas outras pessoas que vivem o mesmo dilema. No fundo, além de psicóloga, acho que eu seria uma boa filósofa. Quem sabe tomo coragem para fazer mais uma formação…
Às vezes me esqueço que sou leitora. Eu amo ler, leio um livro por mês, eventualmente mais de um ao mesmo tempo. Sou escritora também. Tenho muito prazer em escrever - textos, reflexões, listas, bilhetes, mensagens. Gosto de agenda de papel, cadernos, folhas e canetas novas, lápis e lapiseiras… Sempre fico alucinada dentro de uma papelaria. Carimbos, adesivos, canetas coloridas, gosto da estética da escrita. Me aventuro por fontes diferentes no Canva, em apresentações, coloco ilustrações. Acredito que eu poderia publicar alguns diários meus sem nenhuma vergonha da estética ou do conteúdo, sem me gabar, apenas porque eu realmente sou dedicada, atenta (lembra que me descrevi acima?).
Por outro lado, sou péssima em decoração. A dificuldade de escolher um sofá, ou a cor de uma parede, ou um flores e folhagens para um ambiente acabaram me afastando de um dos meus sonhos de criança de me tornar arquiteta. Isso e minha matemática sofrível. Faço contas simples de cabeça, mas não alcanço o entendimento de problemas mais elaborados, embora meu raciocínio lógico não seja ruim.
Também sou cozinheira. Gosto de inventar, não sigo muito receita, e por isso é difícil repetir um mesmo prato delicioso se eu não o repetir frequentemente. Cheguei a fazer um curso de chef de cozinha, me arrisquei com alimentos diferentes, depois me tornei vegetariana, e por fim voltei a comer as carnes brancas e estou numa onda mais fit, com muita aveia, batata doce e frango, e coleciono inúmeras receitinhas que nunca fiz. Isso também faço, coleciono coisas que nunca usei ou pretendo usar, só porque me agradam.
Falando em onda fit, eu costumo fazer dos limões que a vida me dá uma boa limonada. Há uns 4 anos, depois de algumas complicações, realizei uma histerectomia e logo depois fui diagnosticada com uma osteopenia e o tratamento foi “puxar ferro”. Para mim, missão dada é missão cumprida, especialmente no tocante à saúde. Esse para mim é um argumento indiscutível. Tenho estado cada vez mais focada nos meus músculos, e isso me revelou todo um novo universo. Novos hábitos e novos pensamentos. Mais questionamentos para mim.
E isso me traz de volta para o fato de eu gostar de compartilhar o que funciona para mim, porque sei que vai incentivar outras pessoas. Eu escuto muito isso. Sem falsa modéstia, eu inspiro pessoas, porque eu demonstro paixão, energia positiva, não tenho medo de me expor, e mostrando minha dedicação, mostro os resultados que as pessoas também querem. Não todas, mas aquelas que querem ter certeza que mesmo sendo “uma pessoa normal a gente consegue”, costumam reconhecer isso em mim. Eu sou uma mulher comum. Uma Nem-Nem: Nem rica nem pobre, nem alta nem baixa, nem burra nem gênia, nem mansa nem agressiva, nem linda nem feia, nem tenho todo tempo do mundo nem estou 100% ocupada, nem doida da limpeza nem largada… Se uma Nem-Nem consegue, eu também, e você também, conseguimos. E eu não tenho medo de compartilhar minhas fórmulas. Gosto de ver todo mundo crescer e se desenvolver. Sinto um orgulho íntimo quando alguém que um dia me disse “quero fazer isso que você faz” me ultrapassar em muito, evoluir, ser referência. Amo que minha primeira estagiária seja VP, que uma paciente que foi estudar psicologia hoje seja uma referência na área, que alguém que me ouviu por um breve momento use a dica que dei como algo rentável para ela. Aliás, o meu propósito de vida, aquilo que me deixa mais feliz e realizada, é apoiar o outro em seu autodesenvolvimento. Por isso amo ser mãe, voltando lá ao começo. Vejo meu filho hoje adolescente, se transformando num puta cara bacana. Também amo ser amiga, e ver as minhas amigas se desenvolverem, vencerem barreiras, e usarem meus conselhos, meus tombos, minhas experiências para evitar problemas e refletir sobre suas próprias habilidades e valores.
Sou falante, palestrante, mas também sou ouvinte. E essa habilidade eu fui desenvolvendo ao longo da vida e me orgulho dela. Porque muitas vezes o que uma pessoa precisa é simplesmente ser ouvida para realizar o que ela precisa. Ouvir é uma arte, e eu tenho aprendido muito com isso.
E se tem mais uma coisa que me define, é o amor. Eu amo, com todo meu corpo. Amo as pessoas, os animais, as plantas, o momento, um acontecimento, um alimento… Isso já foi alvo de críticas de pessoas muito importantes para mim, o que me entristeceu e me fez me questionar muito. Se eu amo todo mundo, será que meu amor vale? Mas depois de muito amar, e questionar, cheguei a conclusão de que independente de ser uma qualidade ou defeito, ser muito amorosa, ou amável, ou amante, me define. Eu realmente amo com intensidade. Meu filho, minha mãe, minha enteada, minha cachorra, minhas amigas, chocolate, céu azul, dirigir um bom carro, ver meus músculos no final do treino, ver um paciente chegar num insight, dar palestra, fazer comida, resolver problemas, casa arrumada, incenso, café, meditar, tomar sol, gargalhar, cantar, tomar banho com sabonete perfumado, conversas profundas, piadas de quinta série, chuva no fim do dia, almoçar com amigas, ir ao shopping sozinha, jogar baralho com a minha mãe, viajar, roupa nova… Eu realmente amo muita coisa e muita gente e isso me define. Acho que uma das coisas que mais me definem… Amor.
Também tenho muita raiva. Fico pistola por n motivos. Mas aprendi que isso não é ruim. Ruim é não saber lidar com a raiva. Para mim, a raiva me impulsiona. Bem direcionada, como aprendi ao longo da vida, é essencial para fazer a vida caminhar. Aliás, isso foi uma das grandes conquistas da minha maturidade, o equilíbrio e o autocontrole. Para mim sempre foi muito importante me controlar, era uma desafio, e hoje eu percebo que mesmo que em alguns momentos seja mais desafiador, eu consigo. E sinto um quentinho no coração. Aprendi a me respeitar e me analisar, e isso me traz muita paz. Me fio aos meus guias espirituais, recorro às amigas, faço coisas que me acalmam e chego no meu equilíbrio.
Ah, e para finalizar, parei de querer agradar todo mundo o tempo todo. Uma grande lição que a vida me ensinou de várias maneiras. Pela lógica, é impossível. Tem muita gente no mundo, com diferentes histórias, contextos, desejos. Então, parando de lutar contra a lógica, aceitei. Claro que é indigesto quando percebemos que alguém não gosta da gente, mas uma coisa que aprendi foi que se alguém não gosta de mim, eu também não quero essa pessoa por perto, eu não sirvo para ela e ela não serve para mim. E isso me trouxe paz. 🤯

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