top of page

Depressão Pós Parto – uma visão geral


Quando a mulher engravida, independentemente de ter sido desejado, estimulado, programado, etc, e toma a decisão de ir em frente e tornar-se mãe, ela passa a viver um processo maravilhoso de gestar e criar uma nova vida dentro de si.

Durante esse processo, ela vai viver coisas muito bacanas, emocional e espiritualmente falando, e também coisas meio complicadas, e por que não dizer, chatas e difíceis.

Do ponto de vista positivo, vai estar entrando em contato aos poucos com aquele bebê, se cuidando para ser uma boa “morada” para ele enquanto estiver em sua barriga, recebendo cuidados da maioria das pessoas à sua volta, sonhando uma nova realidade familiar, realizando um sonho...

Por outro lado, vai estar mais sensível, mais pesada, num turbilhão de hormônios que a faz oscilar entre grande alegria e preocupações e tristeza...

Mas enquanto o bebê está na barriga, ainda nos sentimos no comando...

Logo após o parto, a maioria das mulheres (estima-se algo entre 60 e 85%) passa pelo chamado baby blues que se caracteriza por um período de grande oscilação de humor, momentos de grande excitação e agitação, seguida de crises de choro e cansaço extremos. Do momento do parto até aproximadamente 15 dias após o nascimento do filho, a mulher pode apresentar esse quadro devido a fatores hormonais e à extrema novidade, grande mudança ocorrida na vida e rotina dela.

A mulher, que até pouco tempo era o centro das atenções das famílias e amigos, será plenamente ignorada pela maioria das pessoas, que só terá olhos para o bebê! Dificuldades na amamentação, confusão no estabelecimento de rotinas simples como comer, dormir, tomar banho, excesso ou ausência completa de visitas, e outros fatores externos que afetem a família do recém-nascido vão contribuir para o aparecimento desse desconforto, que costuma desaparecer sozinho à medida em que a novidade vai diminuindo e as condições físicas melhoram.

Apesar do baby blues aparecer em muitas mulheres, isso não significa que ele irá progredir para uma depressão pós-parto.

A depressão pós-parto é um quadro mais complexo que demanda diagnóstico e tratamento imediatos, afim de preservar a qualidade de vida da mãe e do bebê, bem como dos demais integrantes da família. Já está provado que a depressão pós-parto pode acometer também os pais e outros irmãos. Neste caso, os sintomas são diferentes, a incidência é menor, mas não podemos deixar de considerar também os demais membros da família nessa dinâmica. Vamos falar disso mais adiante.

A Depressão Pós-parto pode acometer entre 10 e 20% das mulheres. Ela é mais comum em mulheres que já tenham histórico de depressão e outras síndromes como transtorno bipolar, Desordem Disfórica Pré-menstrual, síndrome do pânico, entre outras. Além do histórico da própria paciente e sua família, outras condições como problemas financeiros, familiares, doenças graves, limitações físicas e violência doméstica também podem favorecer o aparecimento do quadro depressivo.

Parto na adolescência e falta de apoio familiar também são questões que podem facilitar o surgimento do quadro.

A Depressão pós-parto é uma condição psicológica que pode ter início logo após o parto ou até após 12 meses do nascimento do bebê.

Caracteriza-se por um desânimo, falta de vontade, incapacidade de interessar-se por qualquer coisa. Este sintoma é constante, além dele, deve existir pelo menos mais alguns dos sintomas relacionados abaixo.

Quanto mais sintomas, ou quanto maior a potência deles, maior a chance da depressão ser mais grave.

Os sintomas envolvem humor e sentimentos, incapacidade de lidar com a situação e também o físico da mulher:

Humores e sentimentos

  • Sentir-se acabada e sem energia a maior parte do tempo.

  • Sentir-se assustada, em pânico e ansiosa sem motivo.

  • Estar triste, pra baixo, desinteressada de tudo e de todos

  • Não sentir prazer e interesse em qualquer atividade

  • Sentir-se inútil ou sem valor, um fracasso

  • Culpar-se sem necessidade e/ou em excesso por qualquer motivo

  • Ter ideias de se ferir, ferir o bebê e até pensamentos suicidas.

Sentindo-se incapaz de lidar com a situação

  • Tudo parece ser um peso insuperável.

  • Medo excessivo de machucar o bebê

  • Incapaz de tomar as menores decisões.

  • Dificuldade para concentrar-se e lembrar das coisas.

  • Não se encaixar na nova rotina ou alternativamente afastar tudo que era anterior à maternidade da sua vida (incluindo seu parceiro e amigos)

Sintomas Físicos

  • Dificuldade em adormecer, mudanças significativas na qualidade do sono (antes era leve, tornou-se muito pesado, ou o contrário)

  • Fadiga, falta de energia, ou alternativamente, estar muito agitada e incapaz de relaxar um minuto

  • Mudanças drásticas no apetite

  • Ter sintomas físicos como dores diversas, dores de cabeça e maior vulnerabilidade a infecções.

Claro que é importante considerar que de fato algumas coisas mudam. Não é disso que estou falando aqui, esses sintomas servem de guia para notar mudanças radicais e estranhas no pós-parto.

Obviamente alguém que tem um bebê chorando a cada 3 horas para mamar não vai conseguir desenvolver aquelas famosas 8 horas de sono de beleza, mas sentir sono e cansaço o tempo todo, ou não relaxar um minuto quando o bebê está naquele horário do seu melhor soninho, atrelado a presença de outros sintomas citados acima, pode ser motivo de buscar ajuda ou orientação.

Se você não é a mãe, mas está convivendo com ela o suficiente para notar essas alterações, também pode ajudar. Nesse caso, ao invés de sair afirmando e diagnosticando, procure fazer perguntas, apontar algumas coisas que tem notado, e oferecer ajuda num tom amistoso e compreensivo, pois até mesmo uma intervenção preocupada pode ser motivo de irritação, culpa e tristeza ampliadas para a nova mamãe.

A mulher que está passando por isso não está “de frescura”, ou fazendo de propósito. A mulher deprimida está doente e inspira cuidados. Cada vez mais a Organização Mundial de Saúde está preocupada com a Depressão Pós-parto, pois é uma condição difícil de ser diagnosticada,já que a maioria das mulheres procura esconder a condição – seja por culpa ou por imposição familiar/social – e pelos danos à formação da personalidade da criança que uma condição como essa pode trazer.

No momento em que o bebê mais precisa da mãe, como fonte de estimulação e cuidados, a mãe está em uma condição que a limita ou impede de realizar este importante papel.

Como disse acima, a mãe não é a única acometida pela depressão pós-parto. Assim como também não é a única responsável pelo novo bebê. O pai/companheiro pode ser afetado pela condição, mas como culturalmente o homem é menos emoção e mais ação, pode refletir sua tristeza aumentando o consumo de bebidas, passando mais tempo fora de casa – no trabalho ou fazendo/assistindo esportes, arrumando uma amante ou usando violência física dentro e fora de casa. O homem ganha um filho, mas que ainda depende muito mais da mãe do que dele, e perde uma esposa, que passa a ser mãe 24 horas por dia. Dependendo de suas condições emocionais e do quanto ele se conhece, isso pode ser um fator determinante para que ele adoeça.

Os outros filhos também podem, dependendo da idade, da capacidade de compreender, dos demais membros da família, ser diretamente afetados pelo nascimento de um irmãozinho. Entre os sintomas apresentados, podem estar as mudanças radicais na forma de se alimentar e no sono, aumento de comportamentos que os pais/cuidadores consideram inadequados, para chamar sua atenção, aumento da agressividade, irritação, adoecimentos repentinos e constantes.

Ao notar qualquer alteração muito grande em algum dos membros da família, é importante considerar buscar ajuda psicológica.

Grupos de apoio, orientação religiosa, amigos mais próximos, tias, avós, etc, todos são de grande ajuda nesse momento, mas ao imaginar que algo mais sério possa estar acontecendo, procure ajuda psicológica.

Para tratar a depressão pós-parto é necessário recorrer a ajuda medicamentosa e psicoterapia. Quanto mais cedo for diagnosticado o quadro, mais fácil será o tratamento e menores os danos possíveis à família.

Raquel de Moraes Sarmento

Psicóloga, Consultora e Coach CRP 126910

Novos Posts
Recentes
Arquivo
Follow Us
  • Twitter Basic Square
  • Facebook App Icon
  • LinkedIn App Icon
  • Google+ Basic Square
bottom of page