Felicidade na vida profissional
- raquelmsarmento
- 2 de set. de 2014
- 6 min de leitura
Felicidade é um tema bastante discutido e de certa forma subjetivo o suficiente para ser banido das discussões profissionais quando se fala do âmbito individual. Por outro lado, estudos e pesquisas apontam que o índice de felicidade dos profissionais de uma empresa afeta diretamente os resultados desta.
Aqui não pretendo discutir a importância da felicidade para os negócios. Mas me proponho a dissertar sobre a felicidade individual de um profissional.
Vamos buscar tangibilizar esse tema. Na minha opinião, baseada em estudos e experiência em grandes organizações, para ser feliz, um profissional precisa:
Fazer o que gosta,
Ter perspectivas de futuro,
Cercar-se de pessoas com as quais se identifica,
Receber um salário justo pelo trabalho que desenvolve, ao mesmo tempo que mantém seu padrão de vida com tranquilidade,
Realizar atividades para as quais ele ao mesmo tempo está preparado mas se sente desafiado,
Não praticar ações que contrariem seus valores e princípios morais.
Com essa pequena lista de exigências, o profissional deveria sentir-se feliz. Mas sabemos que na prática, muitas vezes por melhores que sejam as condições, o profissional não está feliz.
Se você não está feliz como profissional, talvez devesse se perguntar qual (ou quais) dessas esferas não está exatamente adequada.
Escolhemos nossas profissões muito cedo. Aos 17, 18 anos de idade já estamos ingressando em faculdades e muitas vezes já fizemos colégios técnicos ou iniciamos as atividades profissionais em negócios de família. Muitos continuam pelo resto da vida profissional no mesmo caminho que começou a ser trilhado em uma idade onde não tínhamos experiência ou mesmo autoconhecimento para entender o que realmente gostávamos de fazer. Outros escolheram o tema da faculdade, que não necessariamente tinha a ver com a atividade que viria a ser exercida após o término dos estudos. Na minha classe tinha pelo menos umas 10 pessoas que estavam estudando psicologia “para se conhecer melhor”, o que definitivamente não encerra em si o trabalho a ser desenvolvido por um psicólogo no futuro...
Outra possibilidade nesse mesmo tópico é que eu posso ter gostado muito do que fazia no começo, mas hoje não gosto mais. Ou ainda, eu gostava muito da parte técnica, mas à medida em que fui progredindo na carreira, fui migrando para uma área de gestão ou de estratégia para a qual não sinto afinidade (mas é um pecado comentar em voz alta!).
Fato é que o número de profissionais que tem coragem de em um determinado momento de sua carreira sólida e consolidada resolve dar uma guinada e mudar de área, de função, de tipo de emprego, é muito pequena. Hoje os jovens já têm isso mais resolvido em seus corações e mentes, então, aqui estou falando de gerações anteriores (como a minha).
Já no que diz respeito a ter perspectivas de futuro em uma profissão não basta apenas pensar em si. É preciso avaliar o mercado, ter uma visão mais ampla e estratégica, avaliar a empresa atual e outras concorrentes, compreender o cenário como um todo. Ainda trabalhamos em pirâmides, que estão cada vez mais achatadas, então, pode ser que o futuro não seja uma crescente vertical, mas uma maior amplitude, ou uma mudança de ares. Mas muitas pessoas detestam aquela fatídica pergunta de um entrevistador “Como você se vê daqui 5 anos?”, sem saber que ela deveria ser repetida constantemente por você mesmo. O mundo (ou a vida) pode acabar hoje, mas se não acabar, você precisa saber para onde está indo, ou vai acabar parecendo estar em um labirinto sem fim!
Estar com pessoas, em qualquer profissão, é importante. Por mais que seu trabalho seja individual, as pessoas com as quais você interage ou compartilha o ambiente profissional, fazem parte de sua comunidade. Se você está cercado de gente com quem não se identifica, ou em alguns casos até mesmo não tolera, fica muito difícil passar o dia todo sem se incomodar com seu ambiente. Pessoas tem o poder de contaminar os outros com seu bom ou mau astral. Se você torce muito o nariz para alguém no escritório, ou é vítima de perseguição de algum colega, com certeza tem seu grau de felicidade e até mesmo de tranquilidade bastante diminuído.
OK, poucas vezes temos liberdade de escolher com quem vamos trabalhar, e clientes e fornecedores também se enquadram nisso. Se você não pode evitar alguém com quem não afina, é hora de repensar suas próprias atitudes em relação à pessoa. Ter atitudes positivas mesmo com aqueles que parecem contrários a isso, respeitar, levar em consideração, ser agradável, faz com que o clima melhore. Construir uma relação demora, e destruir é instantâneo. Tenha paciência em germinar uma semente de uma boa relação profissional e mantenha-se firme no propósito. Se nada disso funcionar, pense se é mesmo o ambiente onde quer estar.
A questão financeira, embora seja bastante objetiva, gera muita dúvida. Saber se você está sendo bem pago pelo seus serviços é uma coisa. Querer ganhar mais é outra.
Parece que todo mundo tem expectativas de ganhar muito dinheiro. E muito dinheiro para mim é diferente de muito dinheiro para você. Como medir então a felicidade nesse aspecto?
Primeiro, a objetividade. Busque se apoiar em pesquisas sérias e não em perguntar ao vizinho de baia quanto ele ganha. As pesquisas salariais levam em conta tamanho e complexidade de empresa, tempo de experiência, tipo de atividade e autonomia para exercê-la. Se seu RH não possui uma área de remuneração bem estruturada ou não contrata este serviço de uma boa consultoria, então talvez valha a pena investigar por conta própria. Um bom termômetro é fazer algumas entrevistas para saber como você está em relação ao mercado. Essa medida leva em conta você e sua experiência, e não apenas a função que você exerce, visto que muitas vezes somos chamados para cargos superiores ao que exercemos.
Mas outro ponto ligado à questão financeira diz respeito a como você leva sua vida. Seu padrão de vida atual, o que você gasta versus o quanto você ganha. Ser feliz nesse quesito tem mais a ver com a forma como você gasta ou investe seu dinheiro do que exatamente quanto você ganha. Se você se impõe um padrão de vida acima do que seu salário permite, certamente você está infeliz. Como a imagem sugere, você está equivocado.
Embora tenha muito incentivo da sociedade, seu padrão de vida pode e deve ser definido por você. Suas prioridades, seu modo de viver, onde você vai investir mais ou menos, depende de você. O segredo para ser feliz financeiramente falando é compreender suas necessidades e atende-las com o salário que você ganha. Abaixar o padrão de vida pode parecer difícil, mas pode acreditar que é muito mais difícil quando isso não é uma escolha, mas uma imposição da vida.
Se ao exercer suas atividades profissionais você faz isso “com o pé nas costas”, talvez seja a hora de reavaliar uma mudança. É bom estar preparado para exercer seu papel, é bom ser respeitado pelo seu conhecimento, mas também precisa haver um pouco de desafio, ou você não se sentirá feliz. Dentro de sua profissão deve ter algo que você ainda não sabe ou não domina, procure por esses desafios e inclua na sua rotina, para que sua vida profissional fique mais “temperada”. Mesclar atividades rotineiras e diferentes também ajuda a manter os momentos alegres e satisfatórios dentro do trabalho. Só ser desafiado também pode ter um efeito contrário, e manter você constantemente em uma zona de stress e sem conquistas, o que também diminui a felicidade.
Por fim, mas não menos importante, seus valores e princípios precisam estar resguardados. Se você tem tudo acima descrito, mas constantemente faz coisas com as quais não concorda, isso alimenta dentro de você uma sensação de estar fazendo algo errado, e isso mina qualquer chance de felicidade. Ser feliz é acertar, é ter paz de espírito, é saber que está fazendo o que é certo.
Se seu empregador ou clientes exigem que você faça algo que vai contra o que você acredita, moralmente falando, é preciso avaliar se você está na empresa ou no ramo certo. Os nossos valores e princípios normalmente não estão sujeitos a muita mudança. Fazem parte de uma formação de caráter, e dificilmente é possível ser totalmente adaptável. Claro, concessões fazemos, precisamos ter flexibilidade para nos adequarmos ao mercado, mas não é assim tão simples quando falamos de valores e princípios morais.
Não é nenhuma vergonha tomar a decisão de sair de uma empresa por não concordar com seus princípios. Claro, nenhuma empresa quer ser reconhecida por ferir princípios éticos ou morais, por isso, se você chegar a essa conclusão, talvez não seja bom espalhar aos quatro ventos. Numa entrevista de emprego, por exemplo, não pega bem criticar seu antigo empregador. Não é o caso de mentir, mas é preciso ser elegante. Falar de forma escancarada só se tiver provas. Senão, é melhor calar e simplesmente dizer que sua forma de enxergar as coisas diferia da forma da empresa.
Ser feliz não é uma tarefa simples. Exige investimento e atenção quase diários. Veja, eu disse investimento. Não é algo que “cai do céu”, ou fruto do acaso, ou da sorte. Ser feliz depende de você, do tamanho da atenção que você dá ao assunto. Depende de sua atitude em relação as coisas. Depende de você tomar para si a responsabilidade pela sua própria vida e seus atos.
Ser feliz é uma responsabilidade sua!
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