Perseverar

Em tempos de produtos, temas, conceitos e pessoas descartáveis, insistir em um caminho pode ser uma tarefa ainda mais árdua.

Estamos vivendo um tempo em que quando surge o primeiro obstáculo simplesmente desistir parece a opção mais lógica.

Sempre fui muito teimosa, minha mãe diz. Desde muito cedo eu sabia exatamente o que eu queria e como, e claro que podemos chamar isso de teimosia, mas hoje eu vejo que o nome disso é perseverança. Perseverar naquilo que acredito fez de mim uma pessoa de conceitos e valores firmes, mas não imóveis. Há que se ter flexibilidade, adaptabilidade, mas não desistência.

Perseverar não significa atender cegamente. É preciso ter boa análise, lógica, entendimento e contexto... e fé. À medida em que novos elementos entram na sua análise, é necessário reavaliar e fazer adaptações, sempre levando em consideração o princípio, o valor por trás do caminho, e acrescentando e modificando coisas.

Quando alguém escolhe uma profissão, se o faz conscientemente, escolhe aquilo que tem mais afinidade e que o complementa e permite atender todo seu potencial. Mas se em determinado momento da carreira as coisas pedem por mudança, é preciso reavaliar. O que não dá é para ficar pulando de galho em galho, pois certamente o sucesso precisa de tempo e energia com foco, e não ações divergentes acontecendo quase que simultaneamente.

No meu trabalho como Coach vejo isso diariamente. Pessoas com potencial, cansadas da sua rotina, tentando se libertar e escolher diferente, e chamado de perseverar permanecer no comodismo “ah, já passou da hora de querer mudar”, “a essa altura mudar de carreira” e outras frases que tem o mesmo sentido, do medo de colocar tudo a perder por uma chance de fazer diferente, mesmo que o “tudo a perder” seja uma profissão desgastada e que não lhe dá nem o prazer nem a recompensa suficiente, e a “chance de fazer diferente” seja assumir aquele sonho, empreender, mudar de área, crescer, exercer suas máximas potencialidades...

Uma vez que se faça uma avaliação bem completa, envolvendo a lógica e a emoção na escolha, e se decida fazer uma mudança, aí sim falamos em perseverar. Pois há um arrastamento para se manter na zona de conforto, que envolve pessimismo, medo de mudar, de perder dinheiro, de não conseguir, de ter que voltar atrás.

Essa definitivamente não é a melhor sensação que se pode ter, e certamente não é a melhor sintonia para se manter, afim de obter a mudança desejada.

Para fazer uma mudança de carreira, montar um negócio, para se comprometer com alguém, para querer se tornar mãe ou pai, para emagrecer, para tornar sua vida mais saudável, para qualquer grande mudança, cheia de significado e de alinhamento com aquilo que você acredita, é preciso perseverar. Ter coragem de acreditar que aquela escolha o completa e é a certa para você. Ser fiel na sua escolha e não sabotar seus próprios sentimentos, para fazer uma visitinha à zona de conforto, e perder o foco.

Muitas vezes precisamos de uma ajuda para isso. Algum bom amigo que te incentive, um parceiro que te ajude no novo caminho, um Coach que te ajude a descobrir esse novo caminho, o personal trainer que vai te tirar da cama pra malhar chova ou faça sol, e até o bebezinho que vai ter lembrar a todo momento a escolha que você fez...

Não somos ilhas. Somos pessoas vivendo em sociedade, com virtudes e fraquezas, e se assumirmos isso fica mais fácil compreender o momento de insistir sozinho e o momento de pedir ajuda. Ter uma rede de apoio ajuda muito. Ter autoconhecimento ajuda mais ainda. Ter fé é fundamental.

Perseverar é uma arte, uma forma de viver. E para desenvolvê-la é preciso ter uma coisa que todos nós podemos ter. Fidelidade ao próprio coração e firmeza na verdade.

Raquel de Moraes Sarmento

Psicóloga, Consultora e Coach CRP 126910