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Gentileza

  • Foto do escritor: raquelmsarmento
    raquelmsarmento
  • 20 de mai. de 2016
  • 5 min de leitura

Inspirada pelo post de uma amiga sobre a forma como o mau humor masculino já parece “justificável” demais, e como estamos acostumadas a “deixar pra lá” e conviver com grosserias, resolvi hoje escrever um pouco sobre gentileza.

Uma das definições que gosto muito está no site http://www.significados.com.br/, e diz: “A gentileza é uma forma de atenção, de cuidados, que torna os relacionamentos mais humanos, com menos rispidez. Quem pratica a gentileza não tem má vontade, não é indiferente e sim é cuidadosa, distinta e delicada. ”

Estamos vivendo em um mundo em que se tornou piegas ser gentil. Para homens, mulheres e crianças. Onde as pessoas estão sempre correndo e por isso não tem tempo de antes de pedir alguma coisa ou informar alguma coisa, dizer um “Bom dia, como vai? Será que você poderia por favor...”.

Nas relações íntimas muitas vezes isso salta aos olhos, porque todo mundo espera ser bem tratado pela pessoa que ama, mas nem sempre isso acontece. Homens e mulheres estão com suas cabeças cheias de problemas e colocam a culpa de sua falta de gentileza nisso. Em vez de compreensão e amabilidade, se cutucam com grosserias e trocam farpas porque estão “descontando” a pressão recebida ao longo do dia – da empresa que suga, do trânsito infernal, do time que perdeu – exatamente naqueles que estão ali por amor. Mas não apenas as relações íntimas, familiares, amizades sofrem com essa falta de gentileza. Sofre a humanidade...

Notei isso há alguns anos, em mim mesma, quando estava na fila do supermercado, vinda de um dia intenso de trabalho que certamente continuaria à noite após o bebê dormir, tendo ficado mais de uma hora no trânsito para fazer um percurso de menos de 5 quilômetros, tendo jogado as compras aceleradamente dentro do carrinho e depois em cima do balcão para poder correr para casa e fazer o jantar, e a moça do caixa me perguntou “CPF na nota? ” ao que eu respondi imediatamente os números, sem nem ao menos um “Sim, por favor”, quanto mais um “Boa noite” olhando nos olhos... Isso me incomodou profundamente. Eu já havia feito isso muitas vezes. Eu já havia várias vezes evitado olhar as pessoas nos olhos, cumprimenta-las, dentro de elevadores, filas, lojas, ou parada no farol. Eu sempre coloquei a culpa na correria do dia a dia, no excesso de preocupações, no chefe que exigia demais, no projeto que travou, no bebê que estava manhoso, por não ser gentil, por ser ríspida, por confundir assertividade com grosseria...

As relações humanas hoje estão corrompidas pelo excesso de informações e falta de tempo, acrescidas de insatisfações e distanciamentos numa grande mistura explosiva.

Mas nós não somos ilhas. Vivemos em sociedade, com relações interpessoais que deveriam nos apoiar na nossa jornada, mas que muitas vezes passam a ser fardos ainda mais pesados que todo o resto.

Sou uma mulher firme e decidida, ensinada a agir assim desde a juventude. Me tornei uma pessoa independente, profissional de sucesso em grandes corporações, mãe de um garotinho lindo e esperto, que frequenta escola em período integral desde os tenros 4 meses de idade, liderei grandes projetos, criei vários processos, coordenei times com pessoas de diferentes faixas etárias, casei, separei, casei de novo, reorientei minha carreira e depois de muito tempo, descobri que estava fazendo um monte de escolhas erradas... Mas não exatamente o que eu estava fazendo, mas o como...

Comecei a questionar como é que uma pessoa pode trabalhar com outras sem se interessar pelo que elas fazem fora dali. Sem saber o nome do cachorro. Sem lhe perguntar como foi o fim de semana! Sem considerar que ela tem dentro de si seus motivos, e sem entender que ela tem um milhão de preocupações dentro de sua cabeça que a faz agir assim e não assado.

Comecei a entender que quando consideramos que o nosso interlocutor, seja numa reunião importante ou no caixa da farmácia é uma pessoa, e merece ser olhada nos olhos e receber um mínimo de gentileza, ou seja, uma relação humanizada, com cumprimentos e um bom sorriso, independentemente de quantas vezes pisaram no seu calo ao longo do dia.

Sempre acreditei em algo superior a nós, e que nossos atos podem nos “salvar” ou “condenar” de alguma forma. Exatamente por essa crença, eu rezo. E numa das orações bonitas que um dia conheci e passei a repetir como um mantra, diariamente, tinha uma parte que me coube como uma luva. Ela dizia assim “Auxilia-me, Senhor, a reconhecer que cansaço e dificuldade não podem converter-me em pessoal intratável...”, ou seja, que eu não posso justificar minha grosseria, minha falta de gentileza, pelos meus problemas do dia a dia.

Colocamos a responsabilidade sobre nossos atos fora, mas a chave está dentro...

O mau humor e a pressa nos convertem em seres mal-educados, ríspidos, desumanos. Mas não são nossos problemas, nossa vida dura, nossos afazeres os responsáveis por isso. Isso é uma escolha! Cada um de nós pode escolher como quer tratar os outros e a si mesmo. Gentileza gera gentileza, já dizia o poeta. Não que se deva ser gentil apenas para receber o mesmo em troca, porque, com essa pressa e mau humor inerentes ao nosso contexto atual, pode ser que o outro esteja desavisado dessa máxima, mas porque isso vai nos impactar diretamente.

Ao longo desse tempo em que comecei a notar essas questões, fui fazendo algumas mudanças (aos poucos, nada radical), e percebi que isso impactava diretamente meu estado de espírito.

Na próxima vez que fui ao mercado, praticamente nas mesmas condições, olhei a atendente nos olhos e disse “Boa noite! Sim, por favor, quero o CPF na nota. O número é...”. Ao final da compra, com um sorriso desejei a ela um bom final de expediente, e ela me sorriu de volta, desejando boa noite e dizendo “Volte Sempre”. Entendi que o “Volte Sempre” é uma mensagem amplamente aceita no comércio, mas o seu sorriso me dizia que ela queria mais gentileza em seu dia a dia. Volte sempre, cliente que sorri e cumprimenta. Volte sempre cliente que me trata como pessoa, volte sempre pessoa que me cumprimenta e me trata com amabilidade e respeito.

Alguns podem achar exagero, mas fazendo a experiência é possível sentir essa diferença na pele. É a lei da atração. Sabe que naquele mesmo dia recebi passagem no trânsito, um vizinho atencioso abriu para mim o portão que estava quebrado, e meu filho não fez nenhuma birra antes de dormir? Pois é, claro que se pode pensar que tudo foi uma grande coincidência, mas o fato é que quando me deixo cair no mau humor e desumanizo as relações, coisas assim não me acontecem.

Hoje sou uma mulher diferente. Busquei o autoconhecimento, transformei minha carreira, intensifiquei meu lado espiritual, mas acima de tudo minha humanidade. Compreendi a importância de mudar meu comportamento para ter relações mais equilibradas e resultados melhores.

Então, mesmo que seja pensando em você mesmo, seja mais gentil. O mundo está acelerado demais, complicado demais, difícil demais para a gente ainda tentar complicar um pouco mais.

Vivendo com um pouco mais de atenção e cuidado com os outros seres que nos cercam, é possível estar numa sintonia melhor e ter mais amabilidade do mundo em troca.

Raquel de Moraes Sarmento

Psicóloga, Consultora e Coach CRP 126910

 
 
 

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