Controle?!
- raquelmsarmento
- 8 de jul. de 2014
- 4 min de leitura
Ter controle sobre as situações é um desejo muito comum. As mães querem, os empreendedores querem, os profissionais querem, os professores querem, os chefes querem...
Uma pena que é um desejo tão difícil, para não dizer impossível, para a maioria das situações.
O gestor contrata um novo analista. Faz um rigoroso processo seletivo, estuda os candidatos, encontra um que traz exemplos concretos de atuação técnica excelente, e conta boas histórias sobre sua postura. Checa referências, passa o candidato por outras pessoas que irão trabalhar com ele. Acerta a contratação. O funcionário começa na empresa. 1, 2, 3 meses de adaptação. Ensina o trabalho, o profissional começa a pegar o jeito. Coloca um projeto na mão dele e... Ele pede demissão para ir morar no exterior com a esposa que teve uma proposta de expatriação.
Uma mãe desde o começo investiu nas melhores oportunidades de estudo para seu filho. Colocou em boas escolas, ajudou nas tarefas de casa, incentivou a leitura. O adolescente não se interessa em estudar, mas existe um esforço da família para colocar ele em situações de concentração e estudo. Primeiro vestibular, segundo vestibular, mais cursinho, outro ano, lá se vão 4 anos na tentativa de passar em medicina. Nada. Apesar de persistente, não enxerga mais alternativas e resolve trabalhar com o tio na oficina mecânica. E não é que leva jeito?!
Você vai sair de casa de manhã para ir ao trabalho normalmente. Greve dos metrôs. As ruas estão absolutamente travadas e a sua reunião com clientes importantes começa em 1 hora, e com o trânsito que se formou, você não chegará a tempo nem se seu carro criasse asas.
O que frustra as pessoas não é a real situação, mas a falta de controle sobre ela. Sentir-se impotente frente a situação, esbravejar, culpar os outros, não aceitar alternativas, chorar, desistir de tudo, tentar realizar o impossível, negociar o inegociável... essas são algumas das alternativas que cada um de nós encontra quando percebemos que não temos controle sobre a situação em que nos encontramos.
Mas existe alternativa. A diferença principal entre as pessoas que conseguem superar as adversidades e as que ficam estagnadas reclamando da falta de controle é essencialmente o “sangue frio” para compreender que aquilo que não tem remédio, remediado está. Que conseguem se resignar com aquilo que não pode ser controlado e buscar alternativas.
E isso não significa ser fraco ou submisso. Significa ser inteligente. Emocional e racionalmente.
Viver o “luto” do que não funcionou mas não se deixar imobilizar por ele, e então avaliar alternativas, compreender as possibilidades reais, e partir para o Plano B, são atitudes de quem é protagonista da sua história, e de quem no fundo acaba sendo vencedor, pois não é facilmente abatido pela falta do poder e do controle.
Inteligente é aquele que percebe que não tem controle total nem sobre a própria vida, quanto mais sobre o trabalho ou a vida e as decisões dos outros. Esperto é quem consegue rapidamente se questionar sobre porque está chateado, incomodado com uma situação, percebe que é porque não tem controle sobre ela, e se coloca em uma nova condição, pensando as alternativas frente ao novo cenário.
Na vida estamos o tempo todo sendo colocados a prova sobre nossa capacidade de lidar com a falta de controle. Aquele que consegue sentir-se bem e realizado definitivamente não é aquele que tem o controle total em suas mãos, até por que isso é fantasia, mas aquele que compreende que controle absoluto é impossível e que dá para lidar com isso.
Quantos bons profissionais perdem a paciência, a vontade, a energia frente a decisões que o chefe ou “a empresa” tomam e se sente indignado, paralisado e impotente com o rumo das as coisas? Aqueles que não tem tendência a simplesmente aceitar o que mandam normalmente são os que mais sofrem. Acreditam que o dia em que estiverem numa cadeira de diretor, CEO, ou dono isso vai acabar. Mas estão se iludindo. Mesmo os donos e presidentes muitas vezes perdem o controle sobre a situação. No primeiro exemplo que citei, o gestor se preparou, fez tudo conforme manda o figurino, mas mesmo assim, acabou perdendo o bom profissional recém contratado, porque ele não tem controle sobre tudo, ainda que se cerque de todas as alternativas prováveis. Quem iria imaginar que a esposa do cara iria receber uma proposta de expatriação, aceitar, e ainda levar o marido junto? Quais as chances de isso acontecer?
Pois é, usando métodos contraceptivos eficientes ainda há 0,001% de chance de engravidar. Se a previsão do tempo diz que não vai chover ainda tem chance de isso acontecer. Se ninguém comenta nada ainda tem chance do metrô começar o dia em greve. Acontece um acidente e o trânsito fica de matar.
O fato é que o antídoto contra a impotência e indignação de não se ter controle é a compreensão de que isso é realmente impossível, e que é preciso resignação para não estagnar, e energia para buscar alternativas. O único controle possível é sobre nós mesmo e sobre como nos sentimos e reagimos em relação as coisas.
Mas nem esse controle é fácil de se obter. Anos de terapia, religião, coaching, treinamentos, experiência profissional, leituras, maturidade por vezes são necessários. Mas o principal é reconhecer a nossa limitação e compreender como agimos frente ao fracasso em controlar. Se conseguimos compreender que nossa possibilidade de controlar é pequena, ainda que pensemos em alternativas e façamos tudo com muita segurança e correção, podemos lidar com a situação de maneira mais equilibrada e rapidamente nos recuperar da sensação de impotência ou fracasso, resgatar o poder interno e sair em busca de alternativas.
Analisar o próprio comportamento, as próprias reações, ter sempre a energia positiva de manter o equilíbrio e buscar alternativas, faz com que você tenha o controle mais importante de todos, sobre seu próprio nariz!
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