Será que existe receita de bolo para o autodesenvolvimento?
Várias pessoas se perguntam todos os dias como fazer para melhorar suas habilidades e progredir na carreira.
Como resolver aquele ponto de atenção que me impede de assumir uma posição gerencial?
Como me comportar de maneira mais adequada no ambiente de trabalho?
Como comunicar melhor minhas ideias e ser ouvido?
Como lidar com situações de pressão ou conflito sem perder o sono?
Esses são alguns dos questionamentos que mais ouvi ao longo da minha carreira em Recursos Humanos.
Todos querem uma resposta fácil. Uma fórmula mágica, algo que da noite para o dia mude tudo. De preferência, feito por outra pessoa e pago pela empresa.
Mas isso não existe. Sei que parece cruel, mas é como querer perder dez quilos sem fazer exercício ou dieta. Não há desenvolvimento sem esforço e disciplina.
Não existe mágica, mas posso compartilhar a minha receita.
Primeiro, vamos começar com o Conhecer...
É preciso começar conhecendo mais sobre aquilo que se almeja.
Uma boa atitude é ir colecionando artigos sobre o assunto, conhecer mais sobre aqueles modelos que se admira, entender os bastidores dos bons exemplos – o que fazem, quando fazem, por que fazem. Ler, conversar sobre o assunto, prestar atenção na forma como os melhores naquela competência se comportam, etc.
Isso leva tempo, mas quanto mais dedicação e atenção, mais rápido o conhecimento pode ser absorvido.
Quando escolhemos uma profissão, ou quando começamos a trabalhar, sempre temos aqueles ídolos, aqueles que admiramos e queremos imitar. É preciso manter esse pensamento em nossas vidas. Ter um modelo, alguém que se admira, é fundamental. E o pulo do gato é entender como esse ídolo consegue ter uma performance admirável. O que ele faz que o diferencia? Como ele faz isso?
Fique de olho nos pequenos sinais. Vá montando seu portfólio de conhecimento sobre o assunto.
Depois, vem a fase do autoconhecimento. Conhecer a si mesmo, ter consciência de suas virtudes e falhas, entender o próprio funcionamento. O que leva você a ter uma determinada reação frente a uma situação (muitas vezes contrária àquela que você tanto admira!)? Qual o gatilho que detona o que há de melhor e de pior em você? O que você deseja atingir, o que de fato está disposto a abrir mão, qual será seu nível de dedicação e o real empenho no seu desenvolvimento? Onde você quer chegar? O que significa sucesso para você?
Essa é uma fase complicada. Muitas pessoas acreditam que sabem tudo sobre si. Outras não querem nem saber. A maioria não consegue realmente ter uma clara visão sobre si próprio. Ter um espelho ajuda, e no que diz respeito a enxergar o que está dentro de nós, o espelho é a visão do outro. Alguns encontram respostas nos feedbacks, alguns conseguem compartilhar seus pensamentos com colegas de trabalho ou estudo, ou na religião, na terapia, e agora, mais recentemente, no coaching.
O importante é que se encontre sua melhor maneira de se conhecer e entender sua forma de sentir e agir, seus pontos fracos e fortes, e o que significa para você, ser melhor, ou ter sucesso.
Sem o autoconhecimento, não se sabe onde está e nem para onde está indo, portanto, não há como se desenvolver. Como na história de Alice “Se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve”.
Se você espera ser diferente do que é hoje, precisa primeiro entender como você funciona hoje. Esse processo é diferente para cada pessoa. Alguns levam anos, outros apenas alguns meses, e depende não apenas da própria dedicação e interesse, mas também de fatores externos. Já vi acontecer insights em momentos únicos, alguma coisa boa ou ruim, que mexe demais com você e revira seu mundo de ponta cabeça (um acidente, o nascimento de um filho, uma doença, uma viagem), ou por vezes uma frase certa usada por alguém e que te dá aquela peça que faltava para seu quebra-cabeças. Mas também há processos de autoconhecimento que levam anos – de estudo, terapia, coaching, treinamentos, etc...
Estar atento é fundamental. Muitas vezes aquela frase mágica já nos foi dita um milhão de vezes, de diferentes maneiras, por pessoas diversas, mas só naquele exato momento ela faz sentido...
Depois do autoconhecimento, vem a fase de colocar em prática. Sim, praticar, praticar, praticar.
É como exercitar um músculo, ou aprender um novo caminho para chegar em casa. No começo é difícil assimilar. Basicamente, é como se estuda no campo da Psicologia Comportamental, aquilo que é natural na verdade é um comportamento repetido e repetido inúmeras vezes. Agimos de uma determinada maneira porque “instintivamente” tomamos aquele caminho. E para mudar esse “instinto”, basta “treinar” uma nova resposta.
Ao reagir racionalmente de uma nova maneira, no começo parecemos estranhos, e até um pouco falsos. Nos questionamos sobre essa mudança. Os nossos amigos, colegas de trabalho, família, muitas vezes questionam a mudança. Por isso é tão importante saber onde se quer chegar e o que queremos melhorar em nós. Por que no começo, vai parecer estranho. E quando finalmente aquilo passar a fazer sentido, e ser mais natural, aí sim, a mudança estará completa.
Sim, autodesenvolvimento não é uma tarefa simples. Não, não adianta delegar nosso desenvolvimento para alguém, seja ele nosso chefe, guru, a empresa, o terapeuta, o Coach, o consultor, o líder religioso.
Autodesenvolvimento é para os fortes. É preciso querer. Muito.
É preciso estar atento. Saber onde se quer chegar. Dedicar-se.
Estar aberto a expor e trabalhar aquele seu ponto fraco. Ser humilde e admitir as próprias falhas. Reconhecer que tem virtudes e que pode se apoiar nelas. Procurar ajuda. Acolher um feedback e a visão de outros.
Não é um processo rápido. Não há mágica.
Mas é possível. É viável. Basta estar disponível e interessado. Buscar alternativas para suportar esse momento. E persistir.
Essa é a minha receita. Do Conhecer Ao Ser, isto é, partir do conhecimento daquilo que se almeja, recolher muitas informações. Conhecer a si mesmo. Vasculhar tudo que há em você, o bom e o mau. Saber suas próprias reações. Seus instintos, seus gatilhos. E finalmente, chegar ao Ser, ou seja, viver a sua nova realidade. Praticar a sua escolha, seu modo de viver.
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